Confira o áudio:
O Arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, foi por muitos anos fechado ao público. Em 2018, a área marinha foi aberta para visitas embarcadas e para mergulho, dois anos depois de ganhar o status de Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes. A abertura para os turistas foi acompanhada de uma grande expectativa, uma vez que o local potencialmente teria uma grande diversidade de vida marinha ainda inexplorada.
Um estudo mostrou que, apesar da grande biodiversidade, a experiência dos mergulhadores em Alcatrazes não foi tão satisfatória como em outras áreas menos protegidas e supostamente com menos vida marinha, como a Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo. Os resultados, publicados na revista Ocean and Coastal Management, trazem à tona relevantes questões para pesquisadores, operadores de turismo e gestores das unidades de conservação.
O estudo nasce da tentativa de saber se existe diferença na experiência do visitante de áreas marinhas de acordo com os diferentes graus de proteção. Queremos ainda saber o que pode ser feito para melhorar a qualidade dessa visita, diz à Agência FAPESP Fabio Motta, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), em Santos, que coordenou o estudo.
A pesquisa integra o projeto Ciência aplicada à gestão do uso público e fronteiras do conhecimento de Áreas Marinhas Protegidas, financiado pela FAPESP no âmbito do Programa BIOTA O estudo contou ainda com a participação do bolsista de pós-doutorado Vinicius Giglio, também da Unifesp, um dos coautores do artigo.
O grupo de pesquisadores aplicou questionários a 456 mergulhadores em três áreas marinhas protegidas do litoral paulista com diferentes graus de proteção e contextos de gestão. Além do Refúgio de Alcatrazes, de uso público recente e mais restritivo, foram avaliadas as experiências de mergulho na Ilha da Queimada Grande (que integra a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro) e no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. As duas últimas recebem usuários há vários anos e possuem menos restrições à visitação.
Partimos do pressuposto de que quando uma área marinha protegida se propõe a receber visitantes, além de fatores ecológicos, como diversidade de espécies e biomassa de peixes, é importante que ela ofereça bem-estar humano. Esse é um efeito pouco compreendido em âmbito global, mas importante do ponto de vista da conservação, explica o pesquisador, que coordena na Unifesp o Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar).
O questionário abordava o perfil do mergulhador (gênero, faixa etária, escolaridade e renda), grau de experiência em mergulho, organismos marinhos preferidos, motivações e satisfação. A hipótese dos pesquisadores era que áreas mais restritivas gerassem maior satisfação, uma vez que cumpririam uma expectativa dos usuários por grande biodiversidade.
A média de satisfação foi alta para as três áreas protegidas. Um exame mais atento dos resultados, porém, mostrou algumas particularidades de cada localidade e das motivações dos mergulhadores.

Foto: Arquivo LABECMa
Questão de expectativa
No caso do Refúgio de Alcatrazes, o fato de a área ter a pesca proibida e ter ficado restrita por 30 anos a uso exclusivo da Marinha que realizava exercícios de tiro no local gerou uma grande expectativa de se encontrar grandes peixes, tubarões e raias. No entanto, estar aberta há tão pouco tempo faz com que ainda não se saiba quais os melhores pontos para mergulho e se tenha acesso a esses animais, por exemplo, o que afeta a experiência, afirma Motta.
Na Ilha da Queimada Grande, contribui para a satisfação dos mergulhadores a maior motivação relatada por eles de escapar da rotina, relaxar. Portanto, sem a grande expectativa encontrada pelos usuários de Alcatrazes. No caso da Laje de Santos, contribui ainda o acesso facilitado para moradores da capital paulista, maior cidade da América do Sul, que podem ir e voltar ao parque no mesmo dia.
Para os pesquisadores, o levantamento mostra a importância de monitorar os usos das áreas protegidas, a fim de promover um aperfeiçoamento constante. Com a retomada das atividades turísticas nessas áreas, os questionários continuarão a ser aplicados, com o acréscimo de novas perguntas. O objetivo é obter novas informações que possam ser úteis na gestão das áreas e no aprimoramento das operadoras de turismo.
Como recomendações, o grupo sugere uma melhor comunicação das empresas de mergulho sobre o contexto de Alcatrazes, a fim de ajustar as expectativas dos visitantes. Além disso, relembram a necessidade de valorizar a beleza cênica das ilhas, independentemente da experiência de mergulho.
Para a Laje de Santos, o grupo recomenda a realização de um estudo para aferir a capacidade de carga social por ponto de mergulho, que é a percepção de aglomeração algo que influencia sobremaneira a satisfação dos mergulhadores. Enquanto em Alcatrazes há um guia para cada seis usuários, na Laje de Santos um monitor pode guiar até 20 mergulhadores.
Por fim, para a Ilha da Queimada Grande, medidas de ordenamento visando harmonizar os diferentes usos (pesca e mergulho) poderiam atrair mais visitantes, inibir a pesca ilegal e diminuir o impacto humano causado no local.
Em áreas protegidas, o mergulho tem de ser feito com segurança e com o mínimo impacto ambiental. É importante ainda que ele cumpra um papel de educação, de levar informação ambiental. Os usuários satisfeitos vão poder multiplicar a mensagem da conservação, encerra Motta.
O artigo Does quality of scuba diving experience vary according to the context and management regime of marine protected areas?, de Marina Marconi, Vinicius J. Giglio, Guilherme H. Pereira Filho e Fabio S. Motta, pode ser lido em: www.sciencedirect....964569120301563.
Um estudo mostrou que, apesar da grande biodiversidade, a experiência dos mergulhadores em Alcatrazes não foi tão satisfatória como em outras áreas menos protegidas e supostamente com menos vida marinha, como a Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo. Os resultados, publicados na revista Ocean and Coastal Management, trazem à tona relevantes questões para pesquisadores, operadores de turismo e gestores das unidades de conservação.
O estudo nasce da tentativa de saber se existe diferença na experiência do visitante de áreas marinhas de acordo com os diferentes graus de proteção. Queremos ainda saber o que pode ser feito para melhorar a qualidade dessa visita, diz à Agência FAPESP Fabio Motta, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), em Santos, que coordenou o estudo.
A pesquisa integra o projeto Ciência aplicada à gestão do uso público e fronteiras do conhecimento de Áreas Marinhas Protegidas, financiado pela FAPESP no âmbito do Programa BIOTA O estudo contou ainda com a participação do bolsista de pós-doutorado Vinicius Giglio, também da Unifesp, um dos coautores do artigo.
O grupo de pesquisadores aplicou questionários a 456 mergulhadores em três áreas marinhas protegidas do litoral paulista com diferentes graus de proteção e contextos de gestão. Além do Refúgio de Alcatrazes, de uso público recente e mais restritivo, foram avaliadas as experiências de mergulho na Ilha da Queimada Grande (que integra a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro) e no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. As duas últimas recebem usuários há vários anos e possuem menos restrições à visitação.
Partimos do pressuposto de que quando uma área marinha protegida se propõe a receber visitantes, além de fatores ecológicos, como diversidade de espécies e biomassa de peixes, é importante que ela ofereça bem-estar humano. Esse é um efeito pouco compreendido em âmbito global, mas importante do ponto de vista da conservação, explica o pesquisador, que coordena na Unifesp o Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar).
O questionário abordava o perfil do mergulhador (gênero, faixa etária, escolaridade e renda), grau de experiência em mergulho, organismos marinhos preferidos, motivações e satisfação. A hipótese dos pesquisadores era que áreas mais restritivas gerassem maior satisfação, uma vez que cumpririam uma expectativa dos usuários por grande biodiversidade.
A média de satisfação foi alta para as três áreas protegidas. Um exame mais atento dos resultados, porém, mostrou algumas particularidades de cada localidade e das motivações dos mergulhadores.

Foto: Arquivo LABECMa
Questão de expectativa
No caso do Refúgio de Alcatrazes, o fato de a área ter a pesca proibida e ter ficado restrita por 30 anos a uso exclusivo da Marinha que realizava exercícios de tiro no local gerou uma grande expectativa de se encontrar grandes peixes, tubarões e raias. No entanto, estar aberta há tão pouco tempo faz com que ainda não se saiba quais os melhores pontos para mergulho e se tenha acesso a esses animais, por exemplo, o que afeta a experiência, afirma Motta.
Na Ilha da Queimada Grande, contribui para a satisfação dos mergulhadores a maior motivação relatada por eles de escapar da rotina, relaxar. Portanto, sem a grande expectativa encontrada pelos usuários de Alcatrazes. No caso da Laje de Santos, contribui ainda o acesso facilitado para moradores da capital paulista, maior cidade da América do Sul, que podem ir e voltar ao parque no mesmo dia.
Para os pesquisadores, o levantamento mostra a importância de monitorar os usos das áreas protegidas, a fim de promover um aperfeiçoamento constante. Com a retomada das atividades turísticas nessas áreas, os questionários continuarão a ser aplicados, com o acréscimo de novas perguntas. O objetivo é obter novas informações que possam ser úteis na gestão das áreas e no aprimoramento das operadoras de turismo.
Como recomendações, o grupo sugere uma melhor comunicação das empresas de mergulho sobre o contexto de Alcatrazes, a fim de ajustar as expectativas dos visitantes. Além disso, relembram a necessidade de valorizar a beleza cênica das ilhas, independentemente da experiência de mergulho.
Para a Laje de Santos, o grupo recomenda a realização de um estudo para aferir a capacidade de carga social por ponto de mergulho, que é a percepção de aglomeração algo que influencia sobremaneira a satisfação dos mergulhadores. Enquanto em Alcatrazes há um guia para cada seis usuários, na Laje de Santos um monitor pode guiar até 20 mergulhadores.
Por fim, para a Ilha da Queimada Grande, medidas de ordenamento visando harmonizar os diferentes usos (pesca e mergulho) poderiam atrair mais visitantes, inibir a pesca ilegal e diminuir o impacto humano causado no local.
Em áreas protegidas, o mergulho tem de ser feito com segurança e com o mínimo impacto ambiental. É importante ainda que ele cumpra um papel de educação, de levar informação ambiental. Os usuários satisfeitos vão poder multiplicar a mensagem da conservação, encerra Motta.
O artigo Does quality of scuba diving experience vary according to the context and management regime of marine protected areas?, de Marina Marconi, Vinicius J. Giglio, Guilherme H. Pereira Filho e Fabio S. Motta, pode ser lido em: www.sciencedirect....964569120301563.